Entrevista de Gustavo Caldeira sobre os 20 anos de carreira.

 Entrevista de Gustavo Caldeira sobre os 20 anos de carreira na música:



Pergunta: Depois de vinte anos de música o que faltou fazer?

Resposta: Faltou pisar grandes palcos, ou gravar num grande estúdio... Nunca tive as oportunidades que tiveram outros, mas sinto-me bem com o trabalho que desenvolvi e com as canções que escrevi, não me lamento.


P.: Não existe nenhuma amargura em ti, a esse nível?

R.: Nenhuma! Já vivi revoltado, agora não, a idade trouxe-me uma certa leveza. Vamos a ver uma coisa... Eu nunca motivei nenhum Hype! Nunca estive na moda, nunca tive dinheiro para arranjar os dentes, nunca nada meu se tornou viral...


P.: E se de repente um vídeo teu se tornasse viral, isso mudaria alguma coisa em ti?

R.: Talvez levasse o meu trabalho a mais público, mas não, não mudaria nada em mim. Não sou Influencer.


P.: Como era o Gustavo há 20 anos?

R.: Era um pessimista, um suicida, um auto-destrutivo. Tinha grandes ilusões de singrar no mundo da música através da possível qualidade das minhas canções. Na altura escrevia muito, falava no mIRC com um tal de Nuno Markl que me "apoiava", entre comas, e regra geral acreditava muito nas pessoas.


P.: E o futuro desiludiu-te?

R.: Muito! Não alcancei nada, não cheguei ao patamar que merecia, terminei a tocar nas ruas para poder viver do que gostava até essa rotina se tornar tão estressante que não dava mais para aguentar. Em Portugal, jamais seria bem sucedido...


P.: Porque não ficaste em Inglaterra?

R.: Primeiro, porque não era esse o plano. Em segundo, porque na altura estava apaixonado por uma rapariga com quem vivia junto que me pressionava diariamente por telefone para voltar, e mais tarde, quando voltei, não me soube dar o devido valor. Pensei em ficar, queriam-me arranjar emprego e tudo.


P.: Achas que terias singrado lá?

R.: Como músico, possivelmente não, porque o mercado lá é muito grande e existem grandes talentos. Mas enquanto emigrante, desempenhando um emprego normal, provavelmente eu teria uma vida mais digna.


P.: Sonhas voltar a Londres?

R.: Claro que sim! Gostava de ir lá pelo menos um fim-de-semana rever algumas pessoas especiais que deixei por lá. E claro, visitar Abbey Road agora como turista e não enquanto 'Busker'.


P.: De todas as canções que escreveste tens uma favorita?

R.: É impossível para mim escolher apenas uma. Existem temas de que gosto bastante e dos quais me orgulho, como "2012", "Pray For Me", "Eléctrico Dezembro" e tantas outras. Cada uma representa um momento diferente na minha vida.


P.: Com que idade começaste a compor?

R.: Com 12, 13 anos. Estava no liceu e ainda não sabia muitos acordes mas já sabia o básico. Os temas nessa altura já eram dominantemente em Inglês, mas eu ainda não dominava o idioma a cem por cento.


P.: Dizes que começaste a atuar em bares com 16 anos...

R.: Sim, em 2001. Eu estava num bar, com a minha mãe e uma amiga dela que trazia a filha, também adolescente como eu na altura, e num intervalo de uma dupla de música ao vivo eu pedi para tocar uma canção e acabei por tocar umas três.


P.: A primeira maqueta foi com 18 anos, certo?

R.: Foi gravada nessa altura e depois apresentada na televisão, novamente no "Curto-Circuito" no dia em que fiz 19 anos.


P.: Tiveste ajuda de alguém?

R.: Tecnicamente apenas do dono do Bar que me cedeu o espaço para gravar, porque ele também tinha interesse que as coisas dessem certo comigo. Afinal de contas essa pessoa era uma espécie de Manager que tinha e ele também queria tirar algum lucro de mim.


P.: E a ida à televisão foi importante na tua carreira?

R.: Absolutamente nada! Foi uma experiência interessante mas não me surgiram mais ou menos convites por aparecer na televisão. É tudo uma grande ilusão, não se esqueçam! Os músicos vão tocar à borla à televisão apenas para se promoverem. É a cultura do não pagar ao músico que ainda está muito presente.


P.: Porque razão te afastaste dos Bares?

R.: Por essa mesma razão, por também não gostarem de pagar aos músicos, ficarem a dever dinheiro ou pagarem somas irrisórias. Sempre fui muito mal pago.


P.: Qual foi a letra mais pessoal que escreveste?

R.: O "Stay At Home", por exemplo, é o meu álbum mais pessoal. Mas existem temas como "Journey" que abordam um lado mais pessoal. Eu nessa letra queria escrever 'if you feel a drag' mas escrevi 'if you feel a rag' ou talvez devesse ser 'if you feel as a rag', mas ficou assim.


P.: E a melodia que compuseste que mais te marcou?

R.: Talvez "Pray For Me".


P.: Em relação aos teus álbuns, há algum que prefiras por alguma razão?

R.: Se tiver de referir apenas um trabalho será "Nail On The Head", mas aquele que terá sido o meu pico de criatividade talvez tenha sido por volta dos 25 anos, quando gravei "Say Don't - Look What!" e fiz a mistura de "Sympathy For Jude".


P.: Este ano voltaste a lançar os temas antigos de há 20 anos atrás. Que sentiste quando os voltaste a ouvir?

R.: Foi engraçado, mas não senti nostalgia nenhuma. Revivi as recordações de quando gravei essas canções e voltei a recordar coisas das quais já não me recordava. Esse material foi incluído em "Early Demos 2004-2006".


P.: Fazes planos de voltar a gravar?

R.: Sim! Ando a trabalhar numas canções aos bocadinhos, espero gravar alguma coisa, quem sabe, ainda este ano. Estou à espera de reunir as condições necessárias. A marca GCDayer continua, foi uma decisão que tomei após este ano de celebrações.


P.: E voltar a fazer atuações em Bares e outros eventos?

R.: Isso está absolutamente fora de questão, neste momento. O meu valor enquanto músico foi muito posto em causa nos últimos anos e eu decidi afastar-me do ramo.


P.: Para finalizar, como vai a Clandestine Records?

R.: De momento vai muito baixo em vendas, o que me deprime um pouco mas não me vai fazer desistir. O mês de Janeiro foi muito bom em vendas de Cassetes, depois vieram os CD's e ninguém quis pegar, e agora não surgem encomendas nenhumas... Talvez exista alguma dor de cotovelo por parte de algumas pessoas, para não me encomendarem nada...


P.: Muito obrigado Gustavo, foi um prazer!

R.: Sempre às ordens!



Entrevista realizada no dia 21 de Abril de 2024.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

DOWNLOAD: GCDayer - Discografia 2008-2024